Santa Catarina solicita a retirada da maçã da pauta de negociações com a China
Maior produtor nacional de maçã, Santa Catarina solicitou ao Ministério da Agricultura e Pecuária a retirada da fruta da pauta de negociações com a China. O pedido foi feito por meio de um ofício encaminhado pelo secretário da Agricultura, Valdir Colatto, ao ministro Carlos Fávaro. A abertura do mercado brasileiro para a maçã chinesa representa altíssimo risco socioeconômico aos nossos produtores, além de riscos fitossanitários a cultura da macieira.
“É uma grande preocupação para Santa Catarina. São muitos agricultores trabalhando e empregando pessoas nesta área e nós precisamos manter estar fonte de renda dos nossos produtores. A chegada da maçã chinesa iria inviabilizar a produção no estado, por isso pedimos ao Ministro a retirada da pauta de negociações. Além disso, há a questão sanitária, nós temos mais de 40 tipos de doenças da maçã que não existem aqui e poderiam chegar com a importação”, ressalta o secretário da Agricultura, Valdir Colatto.
“Em uma negociação que envolve principalmente volumes tão expressivos como os negociados sobre soja, não faria sentido pautar o mercado da maçã como um mercado que agregaria valor para ambas as partes”, acrescentou o secretário de Estado da Articulação Internacional, Juliano Froehner.
Santa Catarina responde por 48% da área plantada no Brasil, com uma produção que, na safra 2021/2022, superou a marca de 15 mil hectares de área colhida. O estado foi responsável pela produção de 572 mil toneladas e contou com cerca de três mil pomicultores.
Conforme a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), os investimentos necessários para a implantação de um pomar de alta tecnologia no Brasil chegam aos R$ 150 mil por hectare, sem a terra. Além disso, anualmente é preciso implantar pelo menos 2 mil hectares de renovação de áreas apenas para manter a atividade anual. A abertura para o mercado chinês poderia comprometer a renda de milhares de famílias ligadas a este setor produtivo, tanto de maneira direta quanto indireta.
Impacto sanitário
Santa Catarina é referência internacional em sanidade vegetal e faz parte da única região do mundo a erradicar a Cydia pomonella. A praga, também conhecida como traça da maçã, pode causar grandes prejuízos aos produtores rurais e está longe do território catarinense há dez anos.
Conforme a ABPM, o risco fitossanitário de introdução da praga a partir da importação de maçãs da China é considerado altíssimo. A Cydia pomonella é considerada o pior inseto praga da fruticultura no mundo, mantê-la fora de Santa Catarina exige um trabalho contínuo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e produtores rurais.
A abertura de mercados foi um dos resultados obtidos após a erradicação da praga, pois a qualidade geral dos frutos é preservada, uma vez que não é necessário o uso de inseticidas para o controle da doença nos pomares. O ingresso de pragas e doenças ausentes em nossos pomares, bem como a depreciação de preços, pode significar a inviabilização do setor e o desemprego de milhares de agricultores.
Impacto econômico
Levando em consideração somente os valores brutos da produção, a maçã contribui, em média, com cerca de 50% da fruticultura estadual, o que equivale a R$570 milhões anuais. Se contabilizadas as cadeiras secundárias, como os serviços de armazenagem, distribuição e comercialização nos mercados e feiras, a contribuição da cadeia sobe para mais de R$2,5 bilhões anuais na economia catarinense. Em termos de exportação, em 2022, Santa Catarina participou com 15,8% (5,8t) do volume brasileiro e com 14,5% do valor negociado (US$3,5 milhões).
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Paulo Henrique Santhias
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