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Produção de frutas cítricas se consolida na economia do Oeste Catarinense

O Oeste de Santa Catarina é conhecido pela produção de suínos, aves, leite e grãos. Mas, em praticamente todas as propriedades que conduzem essas atividades, é possível encontrar um pomar de citros. Embora não seja a atividade econômica principal, a produção de laranja e tangerina, tanto em pomares domésticos quanto comerciais, complementa a renda das famílias com colheitas que acontecem durante boa parte do ano. Juntas, as regiões Meio Oeste, Oeste e Extremo Oeste concentram 80% da produção de laranja e 22,5% da produção de tangerina de Santa Catarina.

São pequenos produtores os protagonistas dessa cadeia produtiva: cerca de 95% dos citricultores catarinenses vivem em propriedades com menos de 50 hectares, em regime de trabalho familiar. A área média explorada com citros é de até 2 hectares, onde as famílias cultivam laranjas e tangerinas que são vendidas para indústrias de suco e para consumo in natura.

É na soma desses pomares que a atividade ganha grandes proporções: já são 1,3 mil hectares em Santa Catarina, divididos em 783 pomares. No Oeste do estado, são colhidas 11,4 mil toneladas de laranja e 1,7 mil toneladas de tangerina por ano.

A volta por cima

Nem sempre foi assim. A produção de citros foi introduzida na região por imigrantes de origem alemã e italiana vindos do Rio Grande do Sul, passou por um período de prosperidade com o fornecimento para indústrias na década de 1980, mas poucos anos depois entrou em crise com a falta de compradores e problemas fitossanitários.

A construção de usinas hidrelétricas formou microclimas favoráveis para o cultivo de frutas cítricas na região (Foto: Aires Mariga/Epagri)

Com persistência, tecnologia e muitas parcerias, o setor se recuperou. Hoje, a produção de citros no grande Oeste de Santa Catarina é uma atividade consolidada graças ao esforço dos citricultores, ao trabalho da Epagri em conjunto com outras entidades, ao apoio do Poder Público e à união do setor produtivo, que se organizou em cooperativas e associações.

No Meio Oeste, que já foi considerado inapto para o cultivo de citros (especialmente pelo risco de geadas), as plantas encontraram clima e solo muito favoráveis às margens dos rios Canoas e Uruguai. Isso aconteceu graças à formação de um microclima resultante da construção de usinas hidrelétricas na região. A partir disso, a Epagri, prefeituras e empresas geradoras de energia elétrica incentivaram o cultivo de frutas cítricas, principalmente nos municípios de Abdon Batista e Celso Ramos.

Mudas de qualidade

A Epagri se dedica à citricultura há mais de 45 anos, tanto na área de pesquisa, quanto na orientação técnica dos produtores. O resultado disso é visível na qualidade das mudas comercializadas e cultivadas no estado, que se reflete diretamente na sanidade dos pomares e também nas colheitas. Há décadas a Empresa avalia e introduz em Santa Catarina novos cultivares que oferecem boa produtividade, frutos de qualidade e maior resistência a doenças.

É com sementes dessas plantas selecionadas e borbulhas livres de vírus que os viveiristas do estado produzem as mudas. De acordo com Balanço Social da Epagri de 2019, estima-se que 90% das mudas utilizadas na implantação dos pomares de citros no Estado foram formadas a partir do material básico fornecido pela empresa. O impacto econômico anual em aumento de produtividade desses pomares chega a R$22,9 milhões.

As tecnologias geradas pelas pesquisas e a orientação dos produtores, com boas práticas de manejo, também ajudam a proteger os pomares catarinenses de pragas e doenças. A Epagri participa, por exemplo, do monitoramento e das medidas de mitigação do HLB dos citros e também do cancro cítrico, para que os produtores possam comercializar suas frutas sem restrições.

Pesquisas da Epagri contribuem para elevar a qualidade das mudas comercializadas e cultivadas no Estado (Foto: Aires Mariga/Epagri)

Sustentabilidade e segurança alimentar

Ao mesmo tempo que evolui em qualidade, a produção catarinense de frutas cítricas se torna mais sustentável. A Epagri orienta os fruticultores do estado a manter o solo protegido com plantas de cobertura – uma prática que tem grande impacto na preservação do solo e da água. Outras tecnologias difundidas pela empresa são o manejo integrado de pragas e o uso consciente de insumos, que evitam a contaminação dos recursos naturais. O adensamento de plantio otimiza o uso da área cultivada com maiores produtividades.

Os extensionistas da empresa ainda ensinam os produtores a registrar as práticas agrícolas em cadernos de campo e a cadastrarem suas lavouras no programa de rastreabilidade e-Origem, da Cidasc. Esse sistema centraliza todos os passos das culturas agrícolas dentro da cadeia produtiva, fornecendo ao consumidor e ao mercado informações sobre como o alimento foi produzido.

Oportunidades de mercado

Na fase de comercialização, a Epagri auxilia os grupos formais e informais de agricultores a participarem do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Nesses programas, o Governo Federal adquire produtos da agricultura familiar de acordo com um calendário, beneficiando os produtores locais e garantindo a qualidade da alimentação em escolas e outras instituições.

Em 2022, em 16 municípios do Meio Oeste Catarinense, 56 famílias acessaram esses programas e comercializaram 39,6 toneladas de tangerina, laranja e limão, movimentando R$125 mil. Já nas regiões de Chapecó e Xanxerê, as vendas de 55 famílias ao PNAE somaram R$198 mil, resultado da comercialização de 52,7 toneladas.

A produção de frutas cítricas gera renda para as famílias rurais durante praticamente o ano todo (Foto: Aires Mariga/Epagri)

A organização dos fruticultores em cooperativas e associações aquece a economia local. Em 2022, cerca de 3,6 mil toneladas de laranja, tangerina e limão foram comercializadas pelas cooperativas das regiões Meio Oeste, Oeste e Extremo Oeste, movimentando R$1,6 milhão. O mercado para as frutas cítricas também ganhou novas possibilidades com o surgimento de pequenas agroindústrias de suco e desidratação, que agregam valor aos produtos.

A citricultura é uma das cadeias do agronegócio que mais emprega por área, gerando, em média, um posto de trabalho a cada 9 hectares – isso porque a colheita é feita de forma manual e praticamente durante o ano todo. Um levantamento da Epagri/Cepa revelou a ampliação de 46,7 hectares de laranja e 4,8 hectares de tangerina no Oeste do estado na safra 2021/22. Sinal de que, com apoio e tecnologia, os citricultores encontraram um bom caminho para crescer no campo.

Laranjas e tangerinas orgânicas garantem o futuro da família Rosa

Às margens do Rio Canoas, no lago formado pela construção da Usina Hidrelétrica de Campos Novos, o ‘Sítio dos Rosa’, no interior de Abdon Batista, prova que produzir frutas cítricas nessa região é um excelente negócio. A propriedade pertence à família há gerações e teve nas lavouras de fumo e grãos a principal fonte de renda por mais de 50 anos. Mas conforme os anos passavam, os irmãos Manoel e Rogério, que ali viviam com suas famílias, viram os filhos saírem da propriedade em busca de estudo e trabalho. Até que em 2014, depois de se formar engenheiro-agrônomo, Odair, filho de Rogério e Oraide, apontou um novo caminho para a propriedade.

Irmãos Rogério e Manoel encontraram na citricultura um caminho para ter renda e qualidade de vida no campo (Foto: Aires Mariga/Epagri)

Incentivada pela Epagri, a família Rosa decidiu investir na citricultura. Foi então que 20 hectares de lavouras das duas propriedades se transformaram em pomares de laranjas e tangerinas. “Depois que eu me formei, começamos a planejar as áreas de plantio, participamos de cursos e assistimos a algumas palestras, escolhemos um viveirista e compramos mudas com garantia genética e sanitária. Instalamos os pomares em 2015: eu e meu pai plantamos 10 hectares e meu tio implantou mais 10. Em 2018, ampliamos nossa área em 2 hectares”, conta Odair.

Entre as variedades cultivadas na propriedade estão Clemenules, Dekopon, Murcott, Lanelate, Navelina, Nadorcott e Montenegrina, que é o carro-chefe da produção. E a família Rosa não parou de investir em tecnologia e qualidade: desde 2017, toda a produção do sítio é orgânica, o que permitiu agregar entre 20% e 30% de valor aos frutos comercializados.

Produtividade em crescimento

Os pomares têm oito anos e ainda são considerados jovens, por isso não alcançaram todo o potencial de produção. Mesmo assim, em 2022, as duas famílias colheram mais de 400 toneladas de frutas. A colheita geralmente vai do fim de março até novembro. A produção é vendida para distribuidores que entregam para supermercados de várias regiões de Santa Catarina e também no Paraná, no Sudeste e até no Paraguai.

A produção de frutas cítricas permitiu o retorno de Odair, filho de Rogério, à agricultura (Foto: Aires Mariga/Epagri)

Com projetos de crédito elaborados pela Epagri, as duas famílias acessaram programas de apoio da Secretaria da Agricultura e conseguiram financiamento para instalar sistemas de irrigação em 95% da área dos pomares, reduzindo os problemas decorrentes da estiagem. Na propriedade de Manoel, foram financiados R$98 mil pelo programa Prosolo e Água para pagar em 60 meses, com desconto de 50% nos pagamentos em dia. Já Rogério acessou o programa Menos Juros, que subsidia 2,5% dos juros no financiamento de R$82 mil.

A decisão de produzir frutas cítricas permitiu o retorno dos filhos de Manuel e Rogério ao sítio, além de gerar novos empregos: em época de colheita da tangerina Montenegrina, as duas propriedades chegam a ter 20 pessoas trabalhando. “Aqui na região, a soja e o milho são fortes, mas nessa área de 20 hectares, não tem como se sustentar com essas culturas. A citricultura tem alto valor agregado e gera uma renda muito maior”, defende Odair. Hoje a família Rosa é exemplo de sucessão familiar, tanto que recebe alunos de cursos para jovens rurais oferecidos pela Epagri para apresentar boas práticas em citricultura e contar sua história inspiradora.

Para conhecer outras histórias de sucesso no agro catarinense, leia o Balanço Social da Epagri.

Escrita por: Cinthia Andruchak Freitas, jornalista

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