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Primeira semana de julho é dedicada à conscientização contra a obesidade infantil

Pela primeira vez, o Estado tem uma semana dedicada à Conscientização contra a Obesidade Infantil. A data foi instituída pela Lei 16.547, de 2014, e marca ações realizadas na primeira semana do mês de julho. Nesse sentido, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) chama atenção para as pesquisas que apontam que uma em cada três crianças de 5 a 9 anos está acima do peso recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A parcela de meninas obesas é de 11,8%, enquanto a dos meninos chega a 16,6%, segundo o IBGE. “Um estudo feito em 2005, com 2.936 crianças em Florianópolis, comprovou uma alta prevalência de sobrepeso e obesidade”, observou a pediatra e nutróloga do Hospital Infantil Joana de Gusmão, Maria Marlene de Souza Pires. A pesquisa reuniu 1.432 meninas e 1.504 meninos com idade entre 7 e 10anos, das quatro primeiras séries do ensino fundamental.

Segundo Maria Marlene, a mesma tendência aparece nos estudos do núcleo de puericultura do Hospital Infantil Joana de Gusmão, voltados aos aspectos favoráveis ao desenvolvimento físico e psíquico das crianças, desde o período da gestação até a puberdade.

Projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, se nada for feito, até 2025 o número de crianças acima do peso pode chegar a 75 milhões. Nesse sentido, as práticas de puericultura – especialidade dentro da pediatria que leva em conta a criança, a família e o entorno – têm impacto especialmente nos primeiros mil dias de vida da criança, que é a soma dos nove meses de gestação, mais os dois primeiros anos. “É esse período que decide a vida do ser humano, em que há uma mensagem genética. Mas o ambiente ao redor da criança também muda isso. Nesse contexto o DNA não sofre alteração, mas muda a forma como ele passará a se expressar. É sempre assim, interação entre genética e ambiente”, explica a pediatra.

A puericultura favorece o crescimento e o desenvolvimento adequados, ajuda na redução da morbimortalidade, reduz significativamente o ônus econômico e humano de doenças como tuberculose, malária e HIV/AIDS, além de melhorar o desempenho escolar e reduzir o risco do desenvolvimento de doenças não-transmissíveis, como obesidade, hipertensão arterial e diabetes tipo 2.

Confira outros apontamentos da doutora Maria Marlene na entrevista:

Como saber o peso ideal da criança, conforme a idade?

Maria Marlene: A ação do pediatra é essencial nesse processo. O crescimento e desenvolvimento são dinâmicos na criança, portanto é preciso monitorizá-los. O correto é manter adequada velocidade de ganho de peso e de estatura.  A comparação de pontos atuais com anteriores, com um intervalo adequado de tempo entre as medidas, permite determinar a velocidade de crescimento e verificar em que momento houve o fator impeditivo do crescimento ou excesso de peso.

O que é o chamado rebote da adiposidade precoce e por que isso está ocorrendo cada vez mais cedo?

Maria Marlene: Ainda não existe uma tradução precisa para o termo “adiposity rebaund” e tem se usado rebote da adiposidade. Os dois primeiros anos de vida da criança são o período que ela mais cresce, antes da adolescência, e isso ocorre de forma desacelerada, ou seja, nos primeiros três meses ganha em média 700 gramas por mês, depois 600, e assim por diante.  O fato é que as crianças estão chegando aos cinco anos com excesso de peso. Esse aumento do peso está acontecendo mais cedo. Nossas crianças têm sido submetidas, entre outras coisas, a ingestão inadequada de micronutrientes e vitamina D, ingestão insuficiente de cálcio, consumo de grandes quantidades de sódio e gordura saturada.

Como a alimentação da mãe, desde a gravidez, influencia no peso da criança?

Maria Marlene: O primeiro contato da criança com os diferentes sabores da alimentação consumida pela mãe ocorre desde o ocorre período gestacional, por meio do líquido amniótico. Esse período é importante no desenvolvimento do apetite da criança, bem como na construção de sua composição corporal. Por isso, sempre que possível, destaco a importância da orientação pediátrica desde o pré-natal.

A orientação pontual do pediatra, indicando uma dieta balanceada, com proporções adequadas de macro e micronutrientes, é necessária para promoção da saúde e prevenção de agravos, assim como a prescrição de micronutrientes para corrigir e/ou prevenir as deficiências da mãe e do bebê.

Além do fator alimentação, o que mais contribui para o ganho de peso das crianças atualmente?

Maria Marlene: Somos resultado da nossa genética, do ambiente e principalmente da interação entre eles. Entre os seres vivos, a criança é o ser mais dependente dos cuidados da família, tendo como suporte as orientações do pediatra. É preciso focar na promoção da saúde e na prevenção de agravos, especialmente no período de maior vulnerabilidade que começa na gestação e segue até completar dois anos, somando mil dias (270 dias de gestação e 730 dias de vida pós-natal).

A fórmula ideal seria: alimentação adequada com uso exclusivo do leite materno até 6 meses; inserção de outros alimentos de qualidade e quantidade adequadas até os dois anos; atividades (pró-ativa) ao ar livre e afeto. Família estruturada, onde a aprendizagem é feita pela observação e imitação dos hábitos de vida, são as palavras-chave.

Quais problemas de saúde o excesso de peso e até a obesidade podem desencadear?

Maria Marlene: O excesso de peso, principalmente o aumento da circunferência abdominal e o sedentarismo, desencadeiam precocemente doenças crônicas como: diabetes tipo 2 (DM2),  doença cardiovascular (DCV), hipertensão arterial sistêmica (HAS) entre outras, com o aumento da mortalidade.

Quais as chances de crianças obesas permanecerem acima do peso depois de adultos?

Maria Marlene: Ganho ponderal precoce em crianças menores de três anos de idade aumenta2 a 3 vezes o risco de obesidade na idade escolar e obesidade e risco de síndrome metabólica na vida adulta.

O que é possível fazer para evitar o ganho de peso na infância e ainda que o excesso de peso seja levado à fase adulta?

Maria Marlene: Acredito que a adequada nutrição, incluindo o aleitamento materno como prioridade, o afeto e o estímulo a um estilo de vida ativo e saudável são fundamentais nesse processo. A qualidade e a quantidade dos nutrientes e cuidados gerais recebidos pelo feto, recém-nato e lactente, influenciam o seu crescimento/desenvolvimento e o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis. O estado nutricional materno também é determinante. Intervenções precoces devem ser direcionadas à nutrição apropriada antes e durante a gravidez, promoção do aleitamento materno, prevenção de ganho rápido de peso durante a infância e promoção de um estilo de vida saudável.

Maria Marlene de Souza Pires é doutora em Medicina pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); pós-graduada em Nutrologia pelo Instituto da Criança (FMUSP); professora associada do Departamento de Pediatria e do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); coordenadora do Serviço de Metabologia e Nutrologia (MENU) e Núcleo de  Puericultura do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG-SES/SC).

Informações adicionais para a imprensa:
Jaqueline Richter
Assessoria de Comunicação
Secretaria de Estado da Saúde
Telefone: 48 3221-2065
E-mail: imprensa@saude.sc.gov.br