Helicóptero da PM de Lages resgata gestante isolada por um alagamento e bebê nasce em parto normal
Faz só 10 meses que a população da Serra Catarinense começou a se acostumar com algo diferente nos céus da região. O helicóptero Águia 4, da Polícia Militar, chegou no dia 29 de maio do ano passado para garantir mais segurança e agilidade em operações de patrulhamento, perseguições a criminosos, resgates de vítimas de acidentes e transferências de pacientes. E entre tantas ocorrências, algumas se destacam pelo inusitado, pelas dificuldades e, especialmente, pelo final feliz.
Foi o que aconteceu no último dia 4 de março, uma sexta-feira chuvosa, com vento e visibilidade baixa. A equipe da 5ª Companhia do Batalhão de Aviação da Polícia Militar de Santa Catarina estava de prontidão no aeroporto de Lages quando, no meio da tarde, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) entrou em contato solicitando apoio para resgatar uma gestante com dores e sangramento na localidade de Cambará, no interior de Bom Retiro.
Naquele momento, a comunidade, cercada por montanhas e distante 32 quilômetros do centro da cidade, estava isolada do mundo pelo transbordamento de um rio devido às fortes chuvas, e entrar ou sair de lá por terra era impossível. O helicóptero se deslocou imediatamente, mas devido às adversidades climáticas, a tripulação não conseguia visualizar do céu a mulher que em terra precisava de ajuda urgente.
Persistência e sinal de fumaça foram fundamentais
A região foi sobrevoada por mais de uma hora à procura da vítima, mas como o combustível estava no fim, a aeronave precisou retornar à base, em Lages, a cerca de 100 quilômetros de distância. Neste momento, um sentimento de tensão se instalou tanto lá em cima como lá embaixo.
“Eu conseguia ver e ouvir, mas eles não me enxergavam. Quando o helicóptero parou de sobrevoar a comunidade e foi embora, eu achei que seria o fim para a minha mulher e meu filho”, lembra o agricultor Amadeus Alves da Silva Junior, de 38 anos.
“O tempo estava muito ruim, havia núcleos de chuva bem forte, o local era distante, a luz do dia estava acabando e tínhamos limitação de combustível. Era uma situação bem complicada”, recorda o tenente-coronel Luiz Eduardo Ardigó da Silva, comandante da 5ª Cia e piloto do helicóptero naquela ocasião.
“Eu sabia que precisávamos voltar a Lages para abastecer, mas tínhamos que resgatar aquela mulher. Era a única chance dela e do feto. Então durante o voo perguntei ao comandante se havia alguma possibilidade de voltarmos, e de imediato ele concordou”, recorda o médico Ricardo Zeilmann, do Samu de Lages e que participou da operação.
Durante o abastecimento do helicóptero, o médico telefonou para Amadeus e pediu que o carro com a sua mulher grávida fosse posicionado em uma estrada onde fosse possível pousar o helicóptero e que fosse feita uma fogueira para ser vista do alto.
E assim, mesmo com chuva, vento, visibilidade baixa e a luz do dia indo embora rapidamente, pois já era fim de tarde, o Águia 4 foi abastecido e levantou voo. Poucos minutos depois, o que todo mundo queria aconteceu, e a fumaça, um dos sinais mais primitivos da humanidade, foi vista pela tripulação.
A emoção de um resgate difícil, mas bem sucedido
Quando o helicóptero pousou e o atendimento foi iniciado, o médico do Samu constatou que Claudia Rodrigues, de 35 anos, já havia entrado em trabalho de parto. Ela apresentava dores e sangramento, e atestada a sua condição clínica de viajar de helicóptero, foi transportada até a maternidade do Hospital Tereza Ramos, em Lages.
Ninguém da família nunca sequer tinha visto um helicóptero de perto. E quando o voo com Claudia iniciou, Amadeus e os outros quatro filhos do casal, com idades entre seis e 13 anos, permaneceram na comunidade. Assustados e chorando, mas aliviados e esperançosos.
E no fim, deu tudo certo. O pequeno Alexander veio ao mundo por parto normal às 20h20min do sábado, dia 5 de março, e já na segunda-feira pela manhã, mãe e filho tiveram alta do hospital. O primeiro compromisso da vida do bebê foi ir até o aeroporto de Lages ao encontro dos policiais que o ajudaram a nascer e viver.
“Eu cheguei a temer pela vida do meu filho e pela minha própria vida, mas graças a Deus e aos anjos de farda que vieram do céu, nós estamos bem. Que Deus sempre os proteja enquanto estiverem voando e abençoe as suas famílias. Vou sempre lembrar o meu filho de tudo o que aconteceu e das pessoas que nos salvaram”, agradece Claudia.
“Tudo o que envolve criança é especial, principalmente quando temos um final feliz. Neste caso, a família foi inclusive nos visitar. Foi a ocorrência mais marcante do Águia 4 em quase meses de atuação em Lages”, destaca o comandante Luiz Eduardo.
“Foi uma alegria muito grande poder resgatar aquela senhora e participar de um momento tão feliz. Salvamos não apenas a vida dela, mas também a do bebê, e proporcionamos alegria àquela família”, diz o soldado Rafael Steffen, que estava no Águia 4.
“O sentimento é de muita satisfação e dever cumprido”, conclui o médico Ricardo.
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Pablo Gomes
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