Diminuição da pressão na rede à noite é proposital para combater desperdício de água
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Secom
Durante a noite, a água que percorre a tubulação de abastecimento da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) passa mais devagar. A mudança de pressão é proposital para evitar desperdícios e prevenir a necessidade de manutenções frequentes na rede e, desde que foi implementada, ajudou a reduzir 95% o número de vazamentos.
A estratégia utilizada em Santa Catarina consiste em manter a pressão da água forte durante o dia, quando a demanda por abastecimento é maior, e reduzir no período da noite. Se durante a madrugada, quando as pessoas estão dormindo, é possível combater o desperdício de água, por que não tomar medidas para evitar vazamentos? Foi com essa lógica que companhias de saneamento passaram a usar válvulas redutoras de pressão.
O uso de Válvulas Redutoras de Pressão (VRPs) já se mostrou eficiente em outros Estados. Em São Paulo, por exemplo, nos anos de 2014 e 2015, o uso dessa tecnologia economizou 3 mil litros de água por segundo, e ajudou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) a enfrentar a crise hídrica.
“O controle de pressão diminui-se o volume perdido, aumentando-se a oferta de água para áreas submetidas a intermitências, melhorando a performance do abastecimento, impactando positivamente na imagem da empresa”, afirma Pedro Joel Horstmann, diretor de Operações e Expansão da Casan.
Pressão inteligente para garantir o abastecimento de água
Regular adequadamente a pressão da água é fundamental para manter o sistema operando e garantir a qualidade do abastecimento, além de economia ao contribuinte, já que evita perdas e revisões constantes nas tubulações. Essa preocupação com a pressão se dá porque no longo prazo a tensão excessiva nas paredes dos canos acaba enfraquecendo a estrutura e gerando vazamentos. As tubulações antigas são particularmente suscetíveis a esse tipo de falha, inclusive com rupturas que podem comprometer a vida útil do sistema e causar interrupções momentâneas no abastecimento de água.
É justamente para auxiliar a sanar esses riscos que as válvulas redutoras de pressão têm sido utilizadas. Por meio da instalação delas, é possível controlar a pressão necessária para a distribuição de água em momentos de demanda ampliada ou reduzida. Com isso, a companhia de abastecimento consegue fornecer pressões adequadas para a população e aliviar a sobrecarga nas tubulações, principal causa de perdas de água, e minimizar os riscos de danos.
Além disso, a instalação das válvulas redutoras de pressão está atrelada a uma diminuição na necessidade de manutenções corretivas, o que se traduz em menor tempo de inatividade, menos interrupções no fornecimento de água e redução dos custos para a companhia. Outro benefício das VRPs é que essa regulação da pressão é constante, independentemente das variações na pressão de entrada, o que evita flutuações bruscas que poderiam causar danos adicionais às tubulações ao longo do tempo.
Sem essas alternâncias bruscas, cai também a chance de que ocorra um problema conhecido como golpe de aríete, que é a alteração abrupta e intensa de pressão que ocorre quando a água é desligada ou há mudanças rápidas no fluxo do sistema. Essas oscilações aumentam as chances de um desgaste precoce e de rupturas na rede.
Novos equipamentos melhoram o abastecimento
O investimento na instalação das válvulas redutoras de pressão se mostrou eficiente para a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento e, justamente por isso, não é a única melhoria prevista. Agora, a Casan estuda colocar em operação no Estado uma Turbina Redutora de Pressão (TRP). O equipamento une funcionalidades das VRPs e também da válvula borboleta — usada para isolar ou regular a vazão da rede — e dos registros, por exemplo.
Além disso, essa tecnologia oferece mais autonomia e menor tempo de resposta para a companhia, já que permite atuar no sistema de forma remota, sem a ligação na rede elétrica. Isso ocorre, pois a TRP aproveita a energia cinética da água em alta pressão e a transforma em energia mecânica. O processo começa quando a força gerada pela quebra da pressão pela VRP, por exemplo, é utilizada pela turbina, gerando eletricidade renovável. Essa energia elétrica é inserida como crédito na rede concessionária e retorna como abono na conta de luz da companhia de água.