De volta pra casa: IMA e Instituto Tabuleiro produzem e plantam 65 mudas da espécie rara Commelina catharinensis
Para garantir a sobrevivência, a reprodução da planta Commelina catharinensis e reduzir a ameaça de extinção, o IMA, o Instituto Tabuleiro e demais parceiros, criaram um Programa de Manejo específico para conservação da espécie rara de flor amarela, encontrada apenas no Litoral de Santa Catarina. O Programa, além de procurar espécies em outros locais, consiste em coletar partes da planta ou sementes dela para reprodução em viveiro e posterior plantio em áreas protegidas.
As atividades de reprodução da espécie em viveiro começaram em maio de 2021, por uma parceria com o Viveiro Camarinha, sendo que em junho de 2022 foi realizada a primeira fase de introdução, com o plantio de 25 mudas dentro de área do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.
Na última quarta-feira, 8, foi mais um dia da Commelina voltar para casa. Pelo Programa, foram levadas mais 65 mudas para Baixada do Massiambú, plantadas em áreas de restinga em ambiente similar ao das raras populações conhecidas.
Em todo o mundo, a Commelina catharinensis foi encontrada em apenas duas áreas de restinga litorânea de Santa Catarina, nos municípios de Laguna e Palhoça. Porém não houve mais registros atuais em Laguna, sendo a única ocorrência conhecida restrita às duas populações localizadas na Baixada do Massiambú, em Palhoça, ambas dentro dos limites de unidades de conservação (Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e Área de Proteção Ambiental do Entorno Costeiro), administradas pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) e pelo Governo do Estado.
“Por conta dessas características, a ‘comelina’ se configura em uma espécie única e extremamente vulnerável, por isso a importância de se criar um programa de conservação único para ela, que mitigue seus possíveis impactos e reduza o risco de extinção”, explica o biólogo do IMA, Marcos Eugênio Maes.
Marcos ainda destaca que o Programa de Manejo é um dos primeiros realizados pelo IMA e que após este piloto, tende a se expandir e contemplar outras plantas com elevado risco de extinção e distribuição restrita ao Estado.
A bióloga Mônica Gomes, do Instituto Tabuleiro é responsável pela execução do projeto e conta como foi o período de reprodução vegetativa da planta em viveiro antes das mudas serem levadas para o plantio. “Quando iniciamos o projeto estávamos com receio no sucesso da produção de mudas, pois temos poucos indivíduos na natureza e encontrar sementes era tão raro, que evitamos retirá-las do ambiente natural. Por esse motivo optamos por testes de produção de mudas por meio de estacas e, com apenas 3 ramos conseguimos obter 3 indivíduos que chegaram em estágio reprodutivo. Para nossa surpresa, sob cuidados em viveiro as mudas produziram sementes que nos permitiram germiná-las e produzir as 90 mudas que já foram plantadas”, explicou Mônica.
O Programa segue em execução, tendo como próximas ações:
– Monitorar os indivíduos introduzidos e as populações conhecidas na Baixada do Massiambú;
– Continuar a produção de mudas no Viveiro Camarinha;
– Realizar novo plantio na primavera, ainda neste ano;
– Realizar expedições para encontrar a espécie em outras regiões do Estado;
– Buscar a avaliação do status de ameaça da espécie, pois apesar da raridade e vulnerabilidade, ainda não consta em nenhuma lista oficial de espécies da flora ameaçada.
Sobre a descoberta da Commelina catharinensis
Os primeiros registros da planta datam da década de 1970, na região de Laguna. Porém, apesar de coletada, a diferente “commelina” de flores amarelas só foi ser descrita em 2016, a partir de novas coletas dela na Praia do Sonho (Palhoça). Na ocasião foram realizados também incursões a campo para averiguar se ainda persistiam exemplares na área de ocorrência em Laguna, porém, não foi encontrado qualquer indivíduo daquela primeira população registrada. Devido ao crescimento urbano acredita-se que não há mais indivíduos no local.
Após pesquisas de cientistas catarinenses, dentre eles o professor João de Deus e Luiz Funez, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), constatou-se que se tratava de uma nova espécie para o estado. Até então só havia conhecimento de espécies do gênero Commelina com flores de tons azuis na região. A nova e rara espécie, encontrada somente no território de Santa Catarina, foi denominada Commelina catharinensis.
Logo após a espécie ser descrita, a Praia do Sonho era a única área com registro atual da C. catharinensis. Mas com o avanço das pesquisas e as saídas a campo, uma nova surpresa. A espécie foi encontrada em outro local, também na Baixada do Massiambú, mas dentro do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, em atividade do Grupo Técnico de Apoio à Restauração Ecológica da Baixada do Massiambú, exatamente na área em que foram realizados plantios após incêndios que ocorreram em 2019.
A espécie tem uma peculiaridade interessante porque faz parte de um grupo de planta relativamente comum, a Trapoeraba-azul, que cresce e se desenvolve de forma frequente e se espalha com facilidade. Mas a Commelina catharinensis tem distribuição muito restrita e as populações são representadas por indivíduos encontrados de maneira esparsa.