Agência de Notícias SECOM

  1. Início
  2. /
  3. Agricultura
  4. /
  5. Controle da cigarrinha-do-milho: recomendação...

Controle da cigarrinha-do-milho: recomendação é erradicar o milho voluntário

Fotos: Divulgação / Epagri

“Não podemos baixar a guarda”. Esse é o alerta da pesquisadora Maria Cristina Canale, para os produtores de milho, na luta contra a cigarrinha-do-milho. Nesse período de entressafra do grão, a recomendação principal para os agricultores é retirar todo milho voluntário – ou guaxo – que nasce espontaneamente, porque eles servem de abrigo para estes insetos, que podem infestar a nova safra, que começa a ser cultivada em julho.  

A cigarrinha-do-milho é o inseto-vetor dos microrganismos causadores das doenças do complexo de enfezamentos, capazes de comprometer substancialmente as safras do grão. Em 2020 os agricultores catarinenses e a Epagri perceberam uma elevação nas populações da cigarrinha, que resultou no aumento da ocorrência da doença. O resultado foi uma queda na produção do milho catarinense. 

Segundo Maria Cristina, engenheira-agrônoma e fitopatologista do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Epagri/Cepaf), Santa Catarina já colheu safras de milho com produtividade de 8,2 mil kg por hectare. Na safra 2021/22 este índice ficou em 5,5 mil kg por hectare. Parte dessa perda pode ser colocada na conta da cigarrinha-do-milho, que juntamente com a estiagem, provocou expressiva quebra naquela safra. 

Preocupados com essa situação, pesquisadores da Epagri aprovaram junto à Fapesc projeto para execução do Programa Monitora Milho SC, que teve início na safra 2021/22. O programa disponibiliza, durante a safra, boletins semanais com informações sobre a incidência do inseto-vetor em 22 pontos monitorados em lavouras de Santa Catarina, assim como a infectividade de tais populações, acessadas por meio de testes moleculares. Isso porque a presença da cigarrinha-do-milho não é, por si só, um risco, a não ser em altas populações. Para transmitir as doenças do complexo de enfezamentos (fitoplasma, espiroplasma e virose-da-risca) para as lavouras de milho, o inseto precisa estar infectado pelos microrganismos (molicutes e vírus) causadores de tais doenças.

O boletim de monitoramento da cigarrinha-do-milho é destinado aos produtores de milho e técnicos que atuam com esta cultura. Com base nestas informações, eles podem decidir com mais assertividade as práticas de manejo que serão aplicadas na lavoura para combater o inseto. 

Segundo a pesquisadora, a cigarrinha-do-milho e as doenças do enfezamento existem no Brasil desde a década de 1970. “Os surtos eram esporádicos e locais”, descreve Maria Cristina. Ela relata que, a partir de 2015, começaram a ocorrer vários surtos pelo Brasil, devido ao aumento do cultivo de milho – algumas regiões fazem até três safras por ano. “Isso gera uma ponte verde, que resulta no aumento de insetos e, consequentemente, na maior incidência da doença”. 

Epidemia peculiar

O monitoramento também ajuda os pesquisadores a conhecerem melhor a doença. Maria Cristina explica que a epidemia do enfezamento tem se mostrado bastante peculiar. A pesquisadora conta que, até sete semanas antes do fim do monitoramento da safra 2022/23, as amostras analisadas no laboratório da Epagri/Cepaf apresentavam pouca incidência de insetos infectados. Já nas últimas sete semanas, o fitoplasma do enfezamento vermelho passou a ser observado em 60% das amostras.  

Mas no campo, a realidade era diferente. Segundo Maria Cristina, enquanto a doença não era detectada em laboratório, era possível observar seus sintomas na lavoura. O laboratório variou a técnica de detecção, mas os resultados eram os mesmos. De repente, sem causa aparente, as amostras começaram a acusar alta infectividade das cigarrinhas. “Pode ser o manejo, o clima, ou até uma questão de sobrevivência para perpetuação do fitoplasma do ambiente, não sabemos, mas é fato que esses dados são inéditos e muito reveladores”, atesta.

A pesquisadora da Epagri, Maria Cristina Canale, integra o Programa Monitora Milho SC

Entre outras conclusões, a equipe responsável pelo monitoramento da cigarrinha-do-milho percebeu que a doença não é mais cíclica, com surtos esporádicos e localizados, como no passado. É um problema que veio pra ficar e de ocorrência em todo o país. Por isso, esse trabalho precisaria ser continuado, porque, segundo a pesquisadora, “cada safra é uma história diferente”. 

Maria Cristina explica que o projeto financiado pela Fapesc, que se encerra em setembro,  cobriu o monitoramento das safras 2021/22 e 2022/23. “Entre julho e agosto, no começo da próxima safra, com o milho ainda em fase inicial, vamos fazer um ‘mini-monitoramento’, para pelo menos não ficarmos sem gerar  informação para os agricultores”, alega a pesquisadora. Ela e outros colegas redigiram novo projeto de monitoramento, que já foi apresentado à Diretoria Executiva da Epagri. 

Manejo próprio

Enquanto o monitoramento oficial não é retomado, os agricultores podem fazer o próprio manejo de suas lavouras quando o plantio iniciar, por volta de julho. A recomendação é usar armadilhas para insetos, vendidas nas agropecuárias, ao preço médio de R$ 3,00  cada. São folhas amarelas, de 30cm x 10cm, cobertas com cola que prende todos os insetos que ali pousarem.

Os agricultores devem trocar as armadilhas toda semana, observando a quantidade de cigarrinhas apreendidos, para acompanhar a evolução da população da cigarrinha-do-milho na sua lavoura. Bastam duas armadilhas por hectare, instaladas nas bordas das lavouras. 

“Recomendo que o agricultor instale armadilhas voltadas para o terreno do vizinho, caso ele também plante milho”, aconselha a pesquisadora. Isso porque o monitoramento deve ser regional, com a cooperação entre vizinhos. Não adianta uma propriedade fazer e outra não, porque há o risco de o inseto continuar se multiplicando, semelhante ao que acontece com o mosquito da dengue. 

Todos os produtores rurais também devem estar atentos ao manejo de entressafra, com relação ao surgimento e erradicação do milho voluntário. E, no caso do aumento da incidência de cigarrinhas, adotar o controle químico já no início da lavoura. 

O Comitê de Ação Contra a Cigarrinha-do-milho e Complexo de Enfezamentos é composto pela Epagri, Udesc, Cidasc, Ocesc, Fetaesc, Faesc, CropLife Brasil e Secretaria de Estado da Agricultura.

Mais informações e entrevistas
Maria Cristina Canale, pesquisadora da Epagri/Cepaf
(49) 20497525

Informações para a imprensa
Gisele Dias, assessoria de Comunicação Epagri
(48) 3665-5147 / 99989-2992

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support