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Aluna especial é classificada para etapa estadual da Feira de Matemática

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O que muitos visualizam como dificuldade tem sido uma oportunidade para a jovem Fernanda Priscila de Souza, estudante de 20 anos, do 3º ano da escola estadual Henrique Rupp Jr, de Campos Novos. Fernanda é uma aluna especial, surda e cega, e mesmo com essas deficiências cursa o ensino médio regular e mais que isso, foi classificada para a etapa estadual da Feira de Matemática na categoria Ensino Médio com um trabalho sobre matrizes, um conteúdo que gera insegurança em muitos alunos.

Acompanhada da intérprete e sua segunda professora, Aldinéia Almeida, que faz a vez de seus olhos e sua fala já há três anos, e da professora de matemática, Priscila Stramosk, Fernanda apresentou com primor o trabalho “Matrizes e Gráficos táteis com a matemática”, que envolvem as três operações de adição, subtração e multiplicação.

Com um geoplano feito em um pedaço de mdf e adaptado para a realidade do trabalho que contou com pinos identificados com numerais arábicos, a aluna demonstrou que conhecimento ela tem de sobra. Alfabetizada na Língua Portuguesa, na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e em braille, Fernanda, em seu trabalho, reconhece a operação matemática através do braille, tateia os números arábicos para explicar para quem está assistindo a apresentação, e dá o resultado da operação em Libras. “Como o cognitivo dela é totalmente preservado, Fernanda tem uma facilidade tremenda para aprender o que lhe é repassado. Ela acompanha facilmente a turma onde estuda, superando alguns alunos, inclusive”, explicou a professora Priscila que ressaltou ainda, que este aprendizado só é possível graças à interação e ação da segunda professora da menina.

E o trabalho diário da segunda professora exige dedicação, além de comunicar aos outros que não entendem libras as mensagens da Fernanda e comunicar à Fernanda as mensagens dos outros colegas e professores através de libras táteis, já que ela não enxerga, a professora precisa ainda, adaptar todas as atividades educacionais a esta realidade. “É um processo de estudo em conjunto. Eu analiso os conteúdos que serão estudados com os professores, planejo como adaptá-los a realidade da Fernanda, com diversos materiais, formas e meios que ela entenda, e assim, vamos obtendo resultados satisfatórios como este, da Feira de Matemática”, disse Aldinéia.

Longe de estigmas e rótulos impostos muitas vezes pela sociedade, Fernanda é feliz. Ela tem sede de conhecimento, segundo as professoras, e quer receber todo o conhecimento que elas possam repassar. “Ela gosta do ambiente escolar, gosta do contato com os outros alunos, aprende e estabelece relações de amizade normalmente. Ela supera suas dificuldades e é um exemplo de vida”, disse Aldinéia.

Fernanda nasceu surda e ficou totalmente cega aos 11 anos de idade, o que possibilitou que ela tivesse contato e aprendizado referente à Língua Portuguesa. Filha mais velha de uma família de sete irmãos, em casa ela faz atividades como tomar banho, se alimentar e se vestir de forma autônoma. Na escola, ela chega diariamente pelas mãos do motorista que a conduz não apenas com o transporte escolar, mas sim, até as mãos de sua segunda professora.

Segundo Fernanda, ela começou a frequentar a escola aos sete anos de idade, mas apenas em 2008, quando já estava cega dos dois olhos e através do Sistema de Atendimento Educacional Especializado – SAEDE, foi que ela recebeu ajuda de um intérprete e segundo professor. Seu primeiro contato com o serviço aconteceu na escola estadual Paulo Blasi. Segundo a professora da SAEDE, Maria Solange Pinheiro, a existência de profissionais capacitados nessa área nessa época era escassa. “Mesmo com a disposição do Estado em fazer a contratação do interprete, naquela época existiam poucos professores habilitados. Hoje, a realidade já é diferente, e por isso, o atendimento se dá de forma mais plena”, salientou Solange.

Através da língua de sinais, Fernanda afirma que este processo até a entrada do SAEDE em sua vida não foi nada fácil pois ficava nervosa pensado o que seria de sua vida, de seu futuro. “Passava a maior parte do tempo quieta, esperando alguém conseguir se comunicar comigo. Comunicava-me apenas com a minha família.Tinha medo do que viria pela frente. Aprendendo libras e depois o Braille aprendi a me comunicar com o mundo. Hoje tenho planos, quero estudar pedagogia ou massoterapia e ainda casar e ter uma família.”, gesticulou a jovem.

O momento para ela agora é de preparar-se para a fase estadual da Feira da Matemática que acontece no mês de outubro, em Joinville. Ela espera passar por mais esta fase, e seguir para a etapa nacional para compartilhar com os outros sua superação e força de vontade. “Estou feliz e ansiosa para a próxima fase. Vou fazer o melhor que puder e confio bastante no nosso trabalho em grupo, meu, com as minhas professoras.”, disse Fernanda, demonstrando que está habituada a trabalhar a partir de várias mãos que acreditam que é possível ser melhor.

{article Camila Bebber Gomes – SDR Campos Novos}{text}{/article}