Boletim Agropecuário de dezembro da Epagri mostra impacto das chuvas na produção agrícola
A perspectiva é de colher 402 mil toneladas de cebola em SC – Foto: Divulgação / Epagri
As safras catarinenses de alho e cebola foram bastante impactadas pelo excesso de chuva dos meses de outubro e novembro. O resultado é uma estimativa de produção bem abaixo das expectativas iniciais. As informações constam no Boletim Agropecuário de dezembro, publicado pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) e disponível nos sites da Epagri e do Observatório Agro Catarinense.
Conforme o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Jurandi Gugel, a produção de alho deve ficar em 48% do volume projetado antes do início do plantio, que era de 15,9 mil toneladas. Em junho, no lançamento das estimativas da safra de inverno pela Epagri/Cepa, essa produção já havia sido atualizada para 12 mil toneladas em decorrência do trabalho de campo que indicou redução na área cultivada. Com os problemas gerados pelas fortes chuvas, agora a estimativa é de uma colheita de 7,6 mil toneladas.
A estimativa da produção de cebola também foi atualizada. Conforme os dados levantados, os problemas climáticos devem gerar uma quebra de cerca de 27% na perspectiva inicial da safra 2023/2024. Em junho, quando as estimativas iniciais da safra de inverno foram lançadas, a estimativa era de uma produção de 554 mil toneladas. Agora a perspectiva é de colher 402 mil toneladas.
Produção de leite
Neste mês de dezembro, o IBGE divulgou novos resultados da Pesquisa Trimestral do Leite, agora com os dados estaduais referentes ao terceiro trimestre do ano. No período de janeiro a setembro de 2023, a quantidade de leite cru adquirida pelas indústrias no Brasil foi 1,9% maior que a do mesmo período de 2022. Em Santa Catarina, o crescimento foi de 7,2%. Conforme o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Tabajara Marcondes, esse índice é bastante superior ao dos demais estados de maior produção leiteira.
Em novembro, as importações brasileiras de lácteos voltaram a aumentar, tanto na comparação com outubro de 2023, quanto em relação a novembro de 2022. No acumulado de janeiro a novembro, foi importado o equivalente a 1,9 bilhão de litros, o que representa 8,1% da oferta total de leite inspecionado no Brasil. De acordo com Tabajara, essa participação das importações no mercado nacional está muito acima do que vinha ocorrendo nos anos mais recentes.
Em relação aos preços médios recebidos pelos produtores catarinenses, depois de meses de queda, dezembro apontou para uma recuperação. Segundo os levantamentos da Epagri/Cepa, o preço médio recebido pelos produtores catarinenses em dezembro foi de R$2,02. Em novembro o valor havia chegado ao menor patamar do ano, com média de R$1,89.
Confira os destaques dos demais produtos acompanhados pela Epagri/Cepa:
Arroz
Dados do Boletim Agropecuário apontam que os preços ao produtor continuam com a tendência de aumento iniciada em julho. O comportamento observado dos preços segue o esperado, com fatores que tendem a manter o mercado aquecido. Destaca-se a menor produção brasileira devido à quebra da safra gaúcha de 2022/2023, o aumento das exportações em 2023 e a expectativa de redução da produtividade na safra 2023/2024 em razão do El Niño. Combinado com esses fatores, os estoques dos demais países do Mercosul estão baixos em virtude das quebras na produção decorrentes de problemas climáticos, o que reforça a tendência de alta dos preços pela menor oferta.
Milho
As condições climáticas desfavoráveis fizeram com que a estimativa de produtividade do milho catarinense fosse reduzida. Inicialmente a produtividade prevista era de 8,83 toneladas por hectare. Atualmente a estimativa está em 8,27 toneladas por hectare. O excesso de chuvas que atrasou o plantio e dificultou os tratos culturais, inundações em lavouras já em desenvolvimento, perda de nutrientes com as enxurradas e o excesso de dias nublados, que reduz a fotossíntese e, consequentemente, o potencial produtivo, foram os fatores que levaram à redução. Em relação aos preços, o alto volume exportado pelo Brasil, que já chega a 50 milhões de toneladas, pode favorecer a recuperação dos preços.
Soja
Os impactos do excesso de chuva também foram sentidos na safra de soja, pois atrasaram o plantio, o que deve impactar na produtividade e na produção total. No Boletim atual, a estimativa de produção total do Estado foi reduzida de 2,9 para 2,73 milhões de toneladas. Os preços da soja em grão apresentaram pequenas oscilações no mercado brasileiro em novembro e início de dezembro. A maior demanda externa impulsionou sua liquidez no mercado brasileiro, sustentando os preços que subiram 1,7% no Estado em novembro, na comparação com o mês anterior. Segundo a Mdic/Secex, o Brasil embarcou 98 milhões de toneladas do produto entre janeiro e novembro, cerca de 20 milhões de toneladas a mais que em 2022.
Trigo
Os preços médios recebidos pelos produtores catarinenses de trigo interromperam a trajetória de queda que vinha acontecendo desde o início do ano. No mês de novembro, houve variação positiva de 10,50% em relação ao mês anterior. Na comparação anual, em termos nominais, os preços recebidos em novembro deste ano estão 35,22% abaixo dos registrados no mesmo mês de 2022. Com a safra 2023/24 tecnicamente encerrada no Estado, as regiões produtoras ainda avaliam os prejuízos decorrentes do excesso de chuvas durante praticamente todo o período de cultivo. Até o momento, espera-se uma redução de 2% na área plantada, passando dos 139,7 mil hectares registrados na safra passada, para 137,4 mil hectares na atual. A produtividade estimada, de 2.336 quilos por hectare representa uma redução de 33% em relação à safra anterior. A colheita esperada é de 320,9 mil toneladas, volume 32% inferior ao da safra anterior.
Feijão
Até a primeira quinzena de dezembro, cerca de 77% das áreas destinadas ao plantio de feijão 1ª safra em Santa Catarina já foram semeadas. Estima-se que serão plantados cerca de 31 mil hectares. Espera-se uma redução superior a 5% na produtividade e, consequentemente, uma queda no volume total produzido na ordem de 4,5%, em comparação com a safra anterior. Caso as chuvas excessivas persistam durante o mês de dezembro, as perdas em produtividade poderão ser mais expressivas.
Bovinos
Nas primeiras semanas de dezembro, os preços do boi gordo em Santa Catarina apresentaram alta de 1,1% em relação à média do mês anterior, tendência observada em todos os principais estados produtores. Por outro lado, na comparação com o valor de dezembro de 2022, observou-se queda expressiva no preço médio do Estado: -21,1%. De acordo com os dados da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), sistematizados pela Epagri/Cepa e divulgados no Observatório Agro Catarinense, em novembro o Estado abateu 52,8 mil bovinos, queda de 7,2% em relação aos abates do mesmo mês de 2022. No acumulado do ano (janeiro a novembro), foram abatidos 553,8 mil bovinos em Santa Catarina – queda de 3,8% em relação à produção do mesmo período de 2022.
Frangos
Santa Catarina exportou 91,4 mil toneladas de carne de frango (in natura e industrializada) em novembro – alta de 10,0% em relação às exportações do mês anterior e de 9,5% na comparação com as de novembro de 2022. As receitas foram de US$172,6 milhões – alta de 7,8% em relação às do mês anterior, mas queda de 8,6% na comparação com as de novembro de 2022. No acumulado de janeiro a novembro, Santa Catarina exportou 993,3 mil toneladas, com receitas de US$2,08 bilhões – altas de 6,9% em quantidade e de 3,9% em valor, na comparação com as do mesmo período do ano passado.
Suínos
Santa Catarina exportou 56,8 mil toneladas de carne suína (in natura, industrializada e miúdos) em novembro – alta de 21,1% em relação às exportações do mês anterior e de 12,1% na comparação com as de novembro de 2022. As receitas, por sua vez, foram de US$127,2 milhões, crescimento de 21,2% em relação às do mês anterior e recuo de 2,1% em relação às de novembro de 2022. No acumulado de janeiro a novembro, o Estado exportou 595,5 mil toneladas de carne suína, com receitas de US$1,43 bilhão – altas de 8,6% e 10,6%, respectivamente, em relação às do mesmo período de 2022.
Banana
A análise do mercado atacadista estadual revela uma valorização nas cotações da banana-caturra e na banana-prata entre outubro e novembro de 2023. Contudo, a expectativa é de desvalorização de ambas as variedades, devido ao aumento na oferta e à diminuição na demanda causada pelo início do período de férias escolares e festas de fim de ano.
A participação da banana catarinense no mercado nacional entre janeiro e novembro de 2023 representou 9,2%, com aumento significativo em volume (35,1%) e valores (24%) na comparação com o mesmo período do ano anterior. Nas exportações catarinenses houve redução de 30,6% no volume comercializado com os países do Mercosul, principalmente pela crise econômica argentina que reduziu a capacidade de importação da fruta brasileira.
Leia a íntegra do Boletim Agropecuário aqui.
Escrita por: Marcionize Elis Bavaresco – Jornalista / Observatório Agro Catarinense (Edital Fapesc 04/22)
Fone: (48) 3665-5082 / E-mail: jornalismo.observatorio@epagri.sc.gov.br
Mais informações e entrevistas: Jurandi Gugel, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, (48) 9695-5139
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