Peritas oficiais de Santa Catarina se tornam especialistas junto à Academia Nacional de Polícia
Quatro servidoras da Polícia Científica de Santa Catarina (PCI) foram recentemente diplomadas como especialistas pela Academia Nacional de Polícia – Escola Superior de Polícia, em Brasília. Os títulos foram concedidos após concluírem os cursos de pós-graduação promovidos pela Polícia Federal – com recursos da Senasp – em diferentes áreas das Ciências Forenses. Os trabalhos apresentados durante o mês de agosto pelas peritas oficiais Kelly Ribas Lobato, Beatriz Simon Lee, Pauline Folador e Aline Borges Teixeira envolveram temas ligados à Genética Forense, Documentoscopia e Criminalística Aplicada a Locais de Crime.
A perita-geral Andressa Boer Fronza parabenizou as colegas pelas conquistas pessoais, destacando a importância destas para o aprimoramento técnico da instituição. “São excelentes profissionais do quadro efetivo da Perícia Oficial que merecem todo reconhecimento pelo empenho e dedicação à busca de novos conhecimentos. A partir de agora, contamos com essas especialistas para compartilhar o aprendizado com suas equipes, de modo a fortalecer ainda mais o trabalho pericial no estado”, afirma.
Crimes sexuais
Para fazer jus ao título de Especialista em Genética Forense, a perita criminal bioquímica Kelly Ribas Lobato desenvolveu o trabalho “Microdissecção a laser como método de separação celular para a obtenção de perfil genético informativo de agressores sexuais”. Segundo a perita Kelly, que é diretora de Análises Laboratoriais Forenses, o equipamento da PCI utilizado para desenvolver a pesquisa é o único à disposição de um órgão oficial de perícia no Brasil.
A repercussão do trabalho fez com que fosse selecionado para apresentação ao Comitê Gestor da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos – do Ministério da Justiça e Segurança Pública, responsáveis por estabelecer as diretrizes dos laboratórios de Genética Forense pertencentes à rede. Entre as conclusões do estudo, teve destaque a efetividade da técnica de microdissecção a laser na separação física em amostras de misturas (simuladas ou forenses). Ao gerar perfis genéticos masculinos únicos, a ferramenta confirma sua importância no processo de separação celular em crimes sexuais.
Documentoscopia
O curso de pós-graduação em Documentoscopia contou com a participação das peritas criminais catarinenses Beatriz Simon Lee e Pauline Folador, entre outros peritos federais e estaduais de todo o Brasil. A perita Beatriz apresentou à banca examinadora o artigo intitulado “Modificações de hábitos gráficos em assinaturas a partir da adoção de assinaturas eletrônicas no âmbito da Superintendência Regional de Polícia Científica em Joinville/SC”. O trabalho consistiu em avaliar alterações de hábitos gráficos em assinaturas de pessoas que abruptamente tiveram seu comportamento gráfico alterado com o advento das assinaturas eletrônicas, passando de escritores habituais para eventuais.
Os resultados demonstraram que uma parcela significativa dos participantes, após deixarem de assinar diariamente, apresentaram alterações em uma ou mais características gráficas, além da sua variabilidade gráfica intrapessoal. Segundo Beatriz Lee, a pesquisa demonstrou que mudanças culturais na caligrafia podem refletir em modificações de hábitos gráficos, propondo que mais esta variável seja considerada nas análises grafoscópicas.
Já o tema de estudo escolhido pela perita criminal Pauline Folador foi a “Relação entre o nível de complexidade de assinaturas manuscritas e os níveis de suporte de conclusão empregados em exames grafoscópicos – Análise de Casos da Superintendência de Polícia Científica de Florianópolis/SC”. Segundo Pauline, nos últimos anos muitos questionamentos surgiram quanto à validade dos exames grafoscópicos, visto que o examinador se utiliza, principalmente, de recursos cognitivos e perceptuais que se pautam essencialmente de critérios subjetivos.
Devido a isso, pesquisadores da área da grafoscopia buscam recursos para gerar mais credibilidade aos resultados, bem como diminuir erros associados a este tipo de exame. Entre eles, destacam-se o emprego de metodologias mais objetivas, a verificação de taxas de erros, a aplicação de testes de proficiência, a padronização de procedimentos, a adoção de escalas de conclusão sem respostas categóricas, entre outros. Os resultados concluem que tais parâmetros disponíveis para a avaliação da complexidade de assinaturas manuscritas podem ser utilizados como uma ferramenta objetiva ao examinador forense quanto à conclusão nos exames grafoscópicos.
Locais de crime
Na área da Criminalística e Locais de Crime, a perita criminal Aline Borges Teixeira apresentou o trabalho “Efeitos do Observador nas análises de locais de crime: há interferência dos vieses cognitivos nas tomadas de decisões periciais?”. O trabalho utilizou pela primeira vez no Brasil um software de rastreamento ocular durante a avaliação de imagens de locais de crimes reais. Dessa forma foi possível observar a interferência dos vieses cognitivos nas análises periciais e formular hipóteses que auxiliam na mitigação desses efeitos.
Por meio deste estudo foi possível levantar a hipótese, baseada na teoria da neurociência da valência das emoções, na qual informações de contexto que gerem emoções de maior intensidade podem aumentar a probabilidade do erro, além da identificação da presença do efeito “priming”. O estudo revelou que o tempo de experiência profissional não está relacionado ao aumento ou diminuição do erro nas análises periciais, o que corrobora com a literatura já publicada. O trabalho será apresentado no próximo dia 31 de agosto em congresso da área forense.