Projeto piloto do Hospital Infantil de Florianópolis conta com nova tecnologia para monitorar glicose que dispensa picada no dedo
Inicialmente 10 pacientes com diabetes, obrigatoriamente em tratamento no hospital, participarão da iniciativa
O tratamento de diabetes do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) entrará numa nova etapa a partir desta quarta-feira, 21. Com a participação de pacientes, médicos e convidados foi realizado, nesta manhã, um evento para oficializar a implantação dos primeiros aparelhos de monitoramento contínuo de glicose. A nova tecnologia dispensa as incômodas picadas nos dedos e ainda traz resultados mais completos sobre o sobe e desce do açúcar ao longo do dia. Inicialmente, 10 pacientes com diabetes, obrigatoriamente em tratamento no hospital, participarão da iniciativa no primeiro mês. O projeto piloto foi desenvolvido pelo Serviço de Endocrinologia Pediátrica da unidade, com apoio da Secretaria de Estado Saúde (SES) e do Ministério da Saúde.
“Estas crianças vêm do estado todo e foram selecionadas por meio dos critérios técnicos da equipe para preparar estes 10 primeiros pacientes. A médio e longo prazo, a ideia é ampliar o atendimento com uma tecnologia que é não invasiva. É uma ação que é importante para orientar, principalmente, na dieta da criança e na prevenção da hiper e da hipoglicemia”, destaca o diretor do hospital, Levy Hermes Rau.
A tecnologia vem ao auxílio dos pacientes portadores de diabetes, visando um convívio com a doença de uma forma mais confortável. Mãe de Antônio Gabriel de Souza Pereira, 9 anos, a moradora de Presidente Getúlio, Francinete Ferreira de Souza relata que o garoto tem diabetes tipo 1 e, de três em três meses, precisa levá-lo para fazer o acompanhamento no hospital. Ela informa que o equipamento tem melhorado a qualidade de vida do filho. “Vejo o progresso no tratamento dele, antes era muito sacrifício ver ele sendo furado todos os dias”, ressalta.
O médico chefe do serviço de Endocrinologia Pediátrica do hospital, Paulo César Alves da Silva, explica que agora poderão ser realizadas medidas da glicemia quantas vezes se quiser durante as 24hs, sem necessidade de furos nos dedos. “Imagine isso numa madrugada com a criança dormindo”, pontua.
De acordo com o especialista, nos últimos anos tem sido cada vez mais frequente o monitoramento contínuo de glicose ou CGM (Continuous Glucose Monitoring). Ele explica que o aparelho permitirá obter muito mais informações da saúde metabólica do paciente com diates, como média da glicemia, tempo no alvo indicado de bom nível de glicose, assim como as tendências futuras de aumento, estabilidade ou queda do hormônio no sangue.
“É particularmente relevante para as crianças, uma população crítica em relação aos episódios de hipoglicemia, que é a baixa de açúcar no sangue. Com este sistema, as leituras de glicose podem ser realizadas de forma ilimitada, sendo 8 leituras por dia, o mínimo preconizado para um adequado perfil diário. Esta tecnologia fornece mais informações do que o monitoramento realizado através de tiras de teste de glicose sanguínea, sem a necessidade das picadas”, ressalta.
O endocrinologista destaca ainda que há evidências de que a utilização de CGM resulte em uma melhora do controle glicêmico, com redução da variação de açúcar no sangue e dos riscos consequentes, como hipoglicemias, hiperglicemias, principalmente nos indivíduos com diabetes mellitus (DM1) tipo 1. “Com o controle metabólico o paciente mantém-se assintomático e previne-se das complicações agudas e crônicas, promovendo a qualidade de vida e reduzindo a mortalidade”, esclarece.
Dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS mostram que entre 2017 a 2021, 354 crianças e adolescentes na faixa etária entre 1 a 19 anos foram internadas no HIJG com diabetes. Já no período entre 2019 a 2021 o ambulatório de endocrinologia da unidade atendeu um total de 2.041 pacientes com diabetes mellitus tipo 1.
Na infância, a diabetes tipo 1 é a mais frequente, correspondendo a 90% dos casos, com um aumento expressivo sobretudo na população abaixo de 5 anos de idade. Trata-se de uma das doenças infantis crônicas mais comuns, ocorrendo em 1 entre 350 crianças. Embora o tipo 1 possa ocorrer em qualquer idade, é mais comum aos 4 e 6 anos ou entre os 10 e 14 anos de idade.
O aparelho
O equipamento utilizado para o monitoramento contínuo de glicose é composto por um pequeno sensor descartável, com duração de até 14 dias, e um leitor. O sensor do tamanho de uma moeda de um real possui um pequena cânula estéril e flexível com 0,4 milímetros de espessura que é inserido 5 mm sob a superfície da pele e é capaz de medir continuamente os níveis de glicose e armazená-los por um período de 8 horas. Sempre que o usuário posiciona o leitor sobre o sensor, os dados glicêmicos são transferidos para leitura. Aplicado no braço com um dispositivo descartável chamado “aplicador”, o sensor permanece aderido ao local devido a uma camada adesiva.
O leitor é um aparelho compacto e portátil que exibe as leituras da glicose e armazena até 90 dias de dados glicêmicos. Ao passá-lo sobre o sensor, é mostrada a leitura atual da glicose, as últimas 8 horas de dados e uma seta de tendência indicando se a glicose está subindo, baixando ou permanecendo estável.
Além do leitor específico do aparelho, as informações também podem ser consultadas pelo usuário por meio de um aplicativo para celular, o FreeStyle LibreLink. É possível também realizar o download dos dados do leitor ou do aplicativo para o celular em uma plataforma compartilhada entre pacientes e profissionais de saúde.
O sistema oferece ainda um software gratuito que gera relatórios para auxiliar na análise dos dados da glicose. O software chamado Ambulatory Glucose Profile (AGP) – em português, “perfil de glicose ambulatorial” – faz a análise estatística e gera relatórios a partir dos dados dos aparelhos de monitoramento contínuo.
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